sábado, 19 de outubro de 2013

Concentração de Riqueza no Mundo Mantida

Menos de 1% concentra 41% da riqueza

Fonte: Revista IBASE - Texto de Dodô Calixto, do Opera Mundi
Cinco anos depois do início da crise econômica mundial, marcada pela quebra do banco norte-americano Lehamn Brothers, os indicadores financeiros seguem apontando para uma concentração da riqueza ao redor do globo. De acordo com o relatório “Credit Suisse 2013 Wealth Report”, um dos mapeamentos mais completos sobre o assunto divulgados recentemente, 0,7% da população concentra 41% da riqueza mundial.
Em valor acumulado, a riqueza mundial atingiu em 2013 o recorde de todos os tempos: US$ 241 trilhões. Se este número fosse dividido proporcionalmente pela população mundial, a média da riqueza seria de US$ 51.600 por pessoa. No entanto, não é o que acontece. Veja abaixo o gráfico da projeção de cada país se o PIB fosse dividido pela população:
A Austrália é o país com a média de riqueza melhor distribuída pela população entre as nações mais ricas do planeta. De acordo com o estudo, os australianos têm média de riqueza nacional de US$ 219 mil dólares.
Apesar de serem o país mais rico do mundo em termos de PIB (Produto Interno Bruto) e capital produzido, os EUA têm um dos maiores índices de pobreza e desigualdade do mundo. Se dividida, a riqueza dos EUA seria, em média, de mais de US$ 110 mil dólares. No entanto, é atualmente de apenas US$ 45 mil dólares – menos da metade.
Entre os países com patrimônio médio de US$ 25 mil a US$ 100 mil, se destacam emergentes como Chile, Uruguai, Portugal e Turquia. No Oriente, Arábia Saudita, Malásia e Coreia do Sul. A Líbia é o único país do continente africano neste grupo. A África, aliás, continua com o posto de continente com a menor riqueza acumulada.
Mesmo com o crescimento da riqueza mundial, a desigualdade social continua com índices elevados. Os 10% mais ricos do planos detêm atualmente 86% da riqueza mundial. Destes 0,7% tem posse de 41% da riqueza mundial.
Veja no gráfico abaixo a pirâmide da riqueza. Apenas 0,7% da população detém US$ 98,7 trilhões de dólares:
Os pesquisadores da Credit Suisse também fizeram uma projeção sobre o crescimento dos milionários ao redor do mundo nos próximos cinco anos. Polônia e Brasil, com 89% e 84% respectivamente, são os países que mais vão multiplicar seus milionários até 2013. No mesmo período, os EUA terão um aumento de 41% do número de milionários, o que representa cerca de 18.618 de pessoas com o patrimônio acima de 1 milhão de dólares.
Em meados deste ano, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulgou um estudo sobre o crescimento da desigualdade social nos países desenvolvidos, como consequência da crise financeira.
A organização diz que o número de pobres cresceu entre 2010 e 2011 em 14 das 26 economias desenvolvidas, incluindo EUA, França, Espanha e Dinamarca. Nos mesmos países, houve forte aumento do desemprego de longa duração e a deterioração das condições de trabalho. Atualmente, o número de desempregados no mundo supera os 200 milhões.
Em contrapartida, entre os países do G20, o lucro das empresas aumentou 3,4% entre 2007 e 2012, enquanto os salários subiram apenas 2,2%.
Segundo informações da imprensa europeia, na Alemanha e em Hong Kong, os salários dos presidentes das grandes empresas chegaram a aumentar 25% de 2007 a 2011, chegando a ser de 150 e 190 vezes maiores que o salário médio dos trabalhadores do país. Nos Estados Unidos, essa proporção é de 508 vezes

Centro comercial em Hong Kong: um dos maiores centros
empresariais e de riqueza do mundo. Foto: Wikicommons
América Latina
Na contramão das grandes potências, a situação econômica e social da América Latina melhorou. Entre 2010 e 2011, 57,1% da população dos países da região estava empregada, um ponto percentual a mais que em 2007, último levantamento antes da crise financeira internacional.
Em alguns países, como Colômbia e Chile, o aumento superou quatro pontos percentuais. Com o aumento do trabalho assalariado, cresceu também a classe média. Na comparação entre 1999 e 2010, a população dentro do grupo social cresceu 15,6% no Brasil e 14,6% no Equador.
No entanto, a OIT destaca que a região ainda enfrenta como desafios a desigualdade social, maior que a média internacional, e o emprego informal. A média da região é de 50%, sendo que em países mais pobres, como Bolívia, Peru e Honduras, supera os 70%.
Em todo o mundo, a organização afirma que há mais de 200 milhões de desempregados. A expectativa é que, ao final de 2015, esse número chegue a 208 milhões.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Conteúdos UERJ - Ciências Humanas

Após pedidos de alguns alunos, disponibilizo a ementa da prova da UERJ, área das Ciências Humanas. Estamos quase lá!!

Marcelus Silveira



Orientação Geral

A área de “Ciências Humanas” inclui os conteúdos das disciplinas de Geografia, História, Sociologia e Filosofia, dialogando com as demais áreas das Ciências Sociais. Aplica-se a perspectiva interdisciplinar na identificação e análise dos fenômenos sociais, por meio da articulação  entre experiências históricas, conceitos e dinâmicas culturais  de forma contextualizada. A abordagem ancora-se em três eixos e busca integrar o contexto  brasileiro ao mundial, respeitando as particularidades locais e regionais e privilegiando processos sócio-históricos situados entre meados do século XVIII e a atualidade. A partir da utilização de diferentes fontes teóricas e de registros e documentos variados, procura-se avaliar o domínio dos conhecimentos exigidos, em articulação com as diversas  temporalidades e dimensões dos fenômenos sociais.


Sociedade, tempo e espaço

Espaço e tempo nas Ciências Humanas: a relação espaço geográfico/espaço social e os conceitos de território, região, fronteira e lugar; os diferentes ritmos, percepções e concepções de tempo histórico, calendários, cronologias e poder; representações do espaço, linguagem cartográfica e o sistema de fusos horários; o fenômeno urbano, cidade e redes A relação sociedade-natureza e suas dinâmicas: atores sociais, interesses econômicos e disputas políticas na apropriação dos recursos naturais e das fontes de energia; movimentos sociais, atividades econômicas, técnica e sustentabilidade ambiental na sociedade contemporânea.

Expansão urbana no mundo e no Brasil contemporâneo: dimensões sociológicas e econômicas e impactos ambientais do fenômeno urbano; processos espaço-temporais de formação da região metropolitana do Rio de Janeiro; hierarquias, territorializações, formas
espaciais e dinâmicas sociais da urbanização Dinâmica populacional no mundo e no Brasil, ao longo do processo histórico: migrações e seus impactos socioculturais; crescimento demográfico e transformações sociais; inter-relação entre dinâmica social e estrutura populacional

Política, cidadania e cultura
Relações entre política, cidadania e cultura: identidade, alteridade, etnia, raça, etnocentrismo, multiculturalismo; patrimônio e memória; tradição e modernidade; ideologia, ciência, ética; nação, nacionalismo, globalização, soberania, Estado Relações internacionais no mundo contemporâneo: conflitos políticos, revoltas e revoluções liberais e socialistas; imperialismo e neocolonialismo; movimentos nacionalistas, rivalidades regionais e étnico-culturais, organização política na formação de Estados nacionais; Estado, território e fronteira nas políticas nacionais; globalização/fragmentação territorial, política, social e cultural na contemporaneidade; a construção de uma nova ordem geopolítica mundial; os ritmos e modalidades de inserção internacional de países da Ásia, da África e da América Latina, em especial, o Brasil Processo sócio-histórico de constituição da sociedade brasileira: heranças coloniais, hierarquias e exclusões sociais; conflitos e negociações políticas na formação, consolidação e transformações da organização do Estado; dependência e desenvolvimento econômico; interesses sociais e práticas culturais na formação da identidade nacional; indústria cultural e sociedade de consumo; movimentos sociais e a organização de trabalhadores urbanos e rurais; autoritarismo, resistência política e características e impasses da ordem democrática economia, trabalho e tecnologia, Relações entre economia, trabalho e tecnologia: desenvolvimento, dependência, capitalismo, socialismo; ciência, técnica, modernidade e globalização; Agentes econômicos do capitalismo e a organização do espaço: industrialização, capitalismo e seus modelos produtivos; Estado, planejamento e regulação da economia; redes técnicas e as interações sócio-espaciais no capitalismo globalizado; organização sócio-espacial da agropecuária e as novas interações urbano-rurais Relações de trabalho no mundo moderno: processos de produção, desenvolvimento técnico-científico e as formas de organização do trabalho; relações trabalhistas e mercado de trabalho no mundo globalizado, informalidade, marginalidade social e formação profissional na contemporaneidade; a transição do trabalho escravo para o trabalho livre na sociedade brasileira; os conflitos sociais, as estruturas agrária e fundiária e a modernização no campo.

domingo, 2 de junho de 2013

Refugiados do Conflito na Síria (ACNUR)

A Agência da ONU para Refugiados divulgou nesta terça-feira que, até 15 de janeiro, quase 640 mil sírios foram registrados como refugiados no Líbano, Jordânia, Turquia, Iraque e Norte da África. Este total é dez vezes superior a maio de 2012.
Com base nas tendências recentes de deslocamento provocado pelo conflito na Síria, a agência estima que estes países abrigarão mais de um milhão de refugiados até o final de junho deste ano.
O ACNUR ampliou significativamente o trabalho de registro e de assistência aos refugiados, além de acompanhar de perto o crescente número de pessoas que diariamente cruza as fronteiras dos países da região.
Há menos de um mês da entrada em vigor do Plano de Resposta Regional para 2013, o ACNUR e seus parceiros preveem que o programa de registros ampliado e assitência financeira emergencial aos refugiados custarão mais de US$ 1 bilhão.
No entando, segundo disse nesta terça-feira o porta-voz do ACNUR em Genebra, Adrian Edwards, a agência arrecadou apenas 18% dos recursos necessários. “A menos que os fundos venham rapidamente, milhares de sírios em situação de vulnerabilidade não terão a assistência que necessitam”, disse ele.
Revendo a situação atual nos países vizinhos à Síria, o porta-voz informou que o ACNUR no Líbano está registrando uma média de 1,5 mil refugiados por dia em quatro centros espalhados pelo país, e está aumentando sua capacidade para atender a demanda crescente. Na última quarta, foram quase 1,8 mil pessoas registras, o recorde diário desde o início da resposta ao conflito.
Para atender às crescentes necessidades dos refugiados, o ACNUR abriu um novo posto de registro no Vale do Bekaa e abrirá outro em Tiro nos próximos meses. “Estamos indentifcando áreas em Beirute onde podemos expandir os registros”, afirmou Edwards. Ele disse ainda que “estes esforços reduzirão o tempo de espera para a obtenção do registro, que hoje é de aproximadamente dois meses”.
Em conjunto com autoridades libanesas, o ACNUR está identificando dois locais para estabelecer centros de trânsito que acomodarão os refugiados até que possam ser transferidos para um local mais adequado. O objetivo é garantir que os recém-chegados estejam seguros e abrigados do inverno.
O ACNUR planeja ainda expandir a assistência financeira para 18 mil pessoas até junho. As famílias mais vulneráveis receberão em média US$ 240 por mês para subsidiar o aluguel e custos de vida. A ajuda financeira permitirá aos refugiados encontrar acomodações, adquirir roupas e itens domésticos, o que contribuirá para aquecer a economia libanesa.
Está previsto para esta terça-feira, na Jordânia, um exercício para acelerar os procedimentos de registro e dar conta de 1,4 mil processos por dia no centro de registros de Amman. Esse número deverá aumentar assim que entrar em funcionamento o centro de Irbid, no norte da Jordânia. O objetivo é concluir 50 mil processos até o fim de fevereiro.
Ainda na Jordânia, o campo de Za’atri teve um aumento expressivo de recém-chegados, com 8.821 pessoas cruzando a fronteira nos últimos cinco dias. “Ao contrário do que vinha acontecendo, os refugiados não somente estão chegando à noite, mas também durante o dia”, disse Edwards.
Cerca de 7,7 mil famílias (30 mil pessoas) na Jordânia recebem ajuda financeira, mas em razão da redução nos fundos, o ACNUR não pode assistir o total de 8.523 famílias que precisam do recurso. Com 80% dos refugiados sírios vivendo em comunidades urbanas, a ajuda financeira permite que as mais vulneráveis possam custear seus gastos básicos, como aluguel.
O ACNUR também ampliou o registro de refugiados in loco, com quase 11 mil visitas domiciliares realizadas pelas equipes de campo do ACNUR e do Auxílio e Desenvolvimento Internacional na Jordânia desde abril do ano passado. “As visitas nos ajudaram a alcançar os mais vulneráveis, incluindo os refugiados idosos e com necessidades médicas, além de mulheres chefes de família”, disse Edwards.
A realidade da maioria dos refugiados urbanos é cada vez mais difícil. Muitos estão vivendo em péssimas condições dentro de sótãos e porões. Outros estão sobrevivendo graças à generosidade dos vizinhos jordanianos, que têm recursos limitados até para si mesmos.
No Iraque, mais da metade dos 73.150 refugiados sírios registrados vive nos campos, e 35% moram em áreas urbanas. O ACNUR e seus parceiros, incluindo autoridades, driblam o inverno aumentando a distribuição de coberturas plásticas, colchões, querosene, fogões, aquecedores, cobertores de lã e colchas. Outras iniciativas incluíram a troca de tendas leves por outras mais resistentes.
Na Turquia, o ACNUR já enviou 18,5 mil tendas adaptadas para o Crescente Vermelho Turco. De acordo com o governo do país, há 156.801 refugiados hospedados em 15 campos em sete províncias.
O governo forneceu  tratamento médico e educação gratuita para os refugiados sírios. Desde que a crise estourou, em 2011, o governo turco realizou mais de 600 mil atendimentos de saúde para os refugiados nas clínicas do país.
Enquanto isso, as análises dos registros de quase 280 mil refugiados sírios realizadas pelo ACNUR na Jordânia, Líbano, Iraque e Egito, mostram que mais da metade da população é constituída por crianças, 39% têm menos de 11 anos. Uma em cada cinco famílias é chefiadas por mulheres. Cerca de 90% dos refugiados sírios chegaram a estes países em 2012.

Por: ACNUR

segunda-feira, 18 de março de 2013

Brasil como Polo de Imigrantes


Copa do mundo, Olimpíadas e crescimento econômico atraem imigrantes à procura de emprego
 Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados no último dia 3, mostram que, apesar da crise econômica mundial em 2008, o número de imigrantes aumentou um terço em 10 anos. O fluxo sempre aconteceu de países subdesenvolvidos para nações de primeiro mundo. No entanto, a projeção do Brasil no cenário internacional colocou o país na rota dos imigrantes. Copa do Mundo e Olimpíadas são eventos que aquecem o mercado de serviços e o crescimento econômico do país é visto como garantia de oportunidade.
A OCDE, formada por 35 países desenvolvidos, indicou que o país que recebeu o maior número de pessoas é a Espanha, população de estrangeiros triplicou, apesar da crise europeia. França e Alemanha não apresentaram aumento significativo nesse setor.
Imigrar, no sentido estrito da palavra, significa sair do país de origem e estabelecer-se em outro de maneira provisória ou permanente. Os motivos para esse deslocamento estão, na maioria das vezes, relacionados com conflitos internos, desemprego e crise econômica.
O desafio do gigante
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que o número de concessões de trabalho para estrangeiros, no Brasil, dobrou nos últimos três anos. De duas mil e quinhentas licenças, o MTE passou a liberar quatro mil e quinhentas em 2012.
O Brasil desponta como novo polo de imigrantes provenientes da África e de países menos desenvolvidos da América, porém o país conta com pouca estrutura para orientar os recém-chegados.
A coordenadora e presidenta da ONG Inti Wasi, que orienta imigrantes peruanos na cidade de São Paulo, Carmen de Watson, comenta as principais dificuldades enfrentadas pelos recém-chegados. “São um grupo vulnerável, por não terem documentação, acabam trabalhando em condições desfavoráveis”, diz.
Sobre a educação dos estrangeiros ela explica que “as crianças sofrem bulling nas escolas, o sistema escolar e a cultura são um choque para elas, [de modo que] muitas famílias levam os filhos de volta para estudar no seu país, Peru ou Bolívia, por exemplo. As diferenças culturais são muito grandes”.
País deve atentar quanto ao tratamento aos imigrantes
Para o coordenador do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação e professor da USP, Dennis de Oliveira, o caso da imigração não é recente. “A imigração de europeus no final do século XIX e início do século XX foi estimulada pelo Estado brasileiro, fazia parte da política de ‘branqueamento’ da população. As políticas de ação afirmativa do Estado em  favor desses imigrantes fizeram com que, num espaço pouco maior que cem anos, eles tivessem uma ascensão social meteórica, que talvez nem nos seus países de origem teriam”. Oliveira afirma que a imigração para o Brasil pode ser afirmativa ou negativa, dependendo da maneira com que o país tratará os estrangeiros. “Já os africanos, que vieram para cá à força, bem como outros imigrantes de países do Terceiro Mundo, continuam vivendo nas piores condições sociais”, ressalta.
O professor comenta que pessoas vindas de outros países têm muito a acrescentar para a cultura nacional e a miscigenação depende do entrosamento desses grupos com os brasileiros. “Se o país demonstrar abertura, principalmente olhando-os não somente como mão de obra, mas também como pessoas com experiências culturais próprias, poderá haver um interessante diálogo intercultural”, afirma Dennis. Ele esclarece, porém, que esse processo acontece depois da segunda ou terceira geração dessas famílias.
 Fonte - Flavia Alves (NIEM/UERJ)

sábado, 16 de março de 2013

Notas sobre a aula 1 no Projeto UERJ

Olha, fiz um rápido comentário sobre o autor Z. Bauman, durante a aula 1 do projeto UERJ, no Valqueire. Abaixo, coloco a resenha do livro que comentei, chamado "Vidas Desperdiçadas"


Vidas DesperdiçadasZygmunt Bauman

Enormes contingentes de seres humanos, destituídos de meios de sobrevivência em seus locais de origem, vagam hoje pelo mundo.  

"Nosso planeta está cheio", afirma Zygmunt Bauman nesse livro. Não somente do ponto de vista físico e geográfico, mas também social e político. Já não há mais espaço para esse lixo humano produzido pela sociedade de consumo.
Essa população fora-da-lei jamais será incorporada ao sistema produtivo nem manterá qualquer tipo de relação estável. O grande problema dos Estados é que destino dar a elas. Esse é o foco para onde convergem as políticas de segurança de todo o planeta.
A produção de seres marginalizados é inevitável em nossa sociedade. É conseqüência inseparável da modernização, efeito colateral da nova ordem e do progresso econômico.
Em Vidas Desperdiçadas, Bauman ilumina com suas reflexões esse cenário sombrio em que se encontra o nosso mundo. Preocupado com o ambiente em que vivemos, lança sua análise aguda e aprofundada em busca de recuperar uma perspectiva humanista do social


Aqui vai um outro link, com uma resenha maior, deste bom livro:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/06.071/3097

Em Padre Miguel, também sugeri o vídeo The Story of Stuff, "A História das Coisas". Coloco o link abaixo, para quem não lembrou de assistir...existe também a versão legendada, que pessoalmente prefiro.

http://www.youtube.com/watch?v=xaglF9jhZLs

Vamos em frente!

Marcelus Silveira


terça-feira, 12 de março de 2013

O que cai no exame da UERJ?


Esta é uma pergunta que muitos estudantes que pretendem a UERJ fazem. Para tentar responder, fiz uma avaliação de 324 questões de múltipla escolha da UERJ, entre os anos de 1997 e 2013 (deixei de fora as provas específicas, da segunda fase), sem diferenciar aqui Geografia do Brasil e Mundo, e o resultado foi o seguinte:

Questões envolvendo a Geografia Econômica são as campeãs, num total de 128 entre as 324 objetivas avaliadas. Muitas com conteúdos da História. Destas 128, 51 eram especificamente de Política Econômica (Política de preços e salários no Brasil, planos econômicos, Sistemas Econômicos, Revoluções Produtivas, Incentivos Fiscais etc). Outras 33 eram de Geografia Agrária, 17 de Geografia das Indústrias, 11 de Energias, 10 sobre o Setor Terciário (temas como transportes, comunicações, turismo etc), 6 de Comércio Exterior e 1 de Extrativismo. Atenção, não tentem somar estes números isolados pra chegar ao número final total, pois uma mesma questão pode ter sido contabilizada duas vezes, como de Indústrias e Energias, ou ainda Urbana e População, ou seja, envolviam mais de um assunto.

Logo depois, o que mais apareciam eram as questões de Geografia Humana, 110 questões, envolvendo principalmente População (74 no total) e Urbanização (40 no total).

As questões de Geopolítica contadas foram 57, envolvendo diversos países ou regiões planetárias. Essa "Geopolítica" envolvia China, Europa, Índia, EUA, Oriente Médio e tal.

Entre as 26 questões da Geografia Física, apareceram 12 de Climatologia, 9 de Cartografia (podendo ser consideradas à parte), 7 de Astronomia (idem), 7 de Relevo, 5 de Vegetação e 4 de Hidrografia.  É aquilo, não cai muito, mas cai. Não priorize a Geografia Física, mas tem que estudar sim!

As questões envolvendo Meio Ambiente totalizaram 19 nas minhas anotações.

As de Geografia Regional, 14 no total. Poderiam ser somadas às 57 consideradas como Geopolítica, pois também tratavam da Geografia do Mundo.

Também apareceram questões difíceis para eu enquadrar, que chamei de temáticas, envolvendo conceitos importantes para o estudo da Geografia (não deixe de compreender conceitos como Região, Território, Estado-Nação, Identidade e Alteridade, Cultura, Etnia, Espaço Geográfico e Lugar); e outras, falando de Terceiro-mundismo, de GPS, do papel da ONU no mundo, uma geleia geral.

Bem, isso aí é a parte da Geografia...não esqueçam também dos assuntos da Química, Física, História, Matemática, Línguas e tudo mais que faz parte da vida de um estudante do Ensino Médio. Lembrando W. Blake, A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. Sorria e estude, e/ou vice-versaDepois, na faculdade, tudo vai melhorar consideravelmente!!


(Marcelus Silveira)



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Nazistas brasileiros implantaram projeto em SP


Muito boa matéria sobre Eugenia no Brasil. Recebi em Janeiro de 2013.

(Prof. Marcelus)

Nazistas brasileiros implantaram projeto de eugenia em São Paulo

Fonte: Jornal Opção, SP. Euler de França Belém, recebido do NIEM/UERJ

Cinquenta órfãos foram levados do Rio de Janeiro para fazenda do interior paulista com o objetivo de serem “educados” e “purificados” pelo trabalho. O mantra “anauê”, do integralismo, era obrigatório
Aloísio Silva, de 89 anos, passou pelo “programa” de “eugenia” dos nazistas brasileiros, em São Paulo, e
sobreviveu para contar a história de seu fracasso No brilhante “A Segunda Guerra Mundial” (Bertrand Editora, 1095 páginas, tradução de Fernanda Oliveira), o historiador inglês Antony Beevor escreve, citando o nazismo de Adolf Hitler: “Chegou mesmo a haver a ideia disparatada de mandar eslavos para o Brasil e de fazer regressar, no seu lugar, colonizadores alemães da província de Santa Catarina” (página 551; a edição, por ser portuguesa, usa “província” no lugar de Estado). Se a ideia de trocar alemães e descendentes por eslavos não deu certo, no Brasil uma família de fazendeiros, simpática ao nazismo, escravizou crianças e chegou a fazer tijolos e bandeiras com a suástica. A “Revista de História”, da Biblioteca Nacional, publica um texto, “Entre a suástica e a palmatória”, na qual a repórter Alice Melo conta que, “nos anos 30, órfãos eram escravizados” numa “fazenda” do “interior de São Paulo por simpatizantes do nazismo”. A partir da leitura da tese de doutorado do historiador Sidney Aguilar Filho, “Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada no Brasil (1930-1945)”, defendida na Unicamp, a jornalista localizou algumas das vítimas da família Rocha Miranda.

Osvaldo Rocha Miranda levou 50 garotos órfãos, “na maioria negros”, para a Fazenda Santa Albertina, no município de Paranapanema, no Estado de São Paulo. Seu objetivo era, seguindo o ideário eugênico, educar por intermédio do trabalho.

Benfeitor do orfanato masculino carioca Romão de Mattos Duarte, Osvaldo Miranda, relata Alice Melo, “escolhia as crianças pessoalmente e as retirava para trabalhar em suas terras sob um contrato de tutelato. O documento tinha o aval tanto do juiz de menores da época quanto da madre superiora da instituição. Os meninos que não fugiram ou morreram permaneceram na localidade entre 1933 e 1945. Nunca receberam salário e, por vezes, eram submetidos a castigos corporais. Trabalhavam na lavoura junto aos adultos. Não tinham nomes, eram chamados por números, e permaneciam sob vigilância constante de um capataz”. As crianças eram agredidas com frequência.

Os irmãos Rocha Miranda tinham simpatia extrema pelo nazismo e se consideravam adeptos de Hitler. Alice Melo conta que “Sérgio Rocha Miranda marcava com a suástica tijolos da estrutura de todas as construções da fazenda, o lombo do gado de exposição, a bandeira da propriedade, que era erguida no mastro ao lado das bandeiras do Estado de São Paulo e do Brasil. Já o irmão Osvaldo era membro da Câmara dos Quarenta da Ação Integralista Brasileira, com outros dois irmãos, também proprietários de terras na mesma região. Em sua fazenda, os órfãos, mesmo sem ter sapatos, recebiam uniforme de cor verde, engomado, contendo o sigma integralista na braçadeira e no chapéu, para ir a festas nos fins de semana na cocheira da Fazenda Cruzeiro do Sul”. As pessoas que moravam na Fazenda Santa Albertina eram obrigadas a se cumprimentarem gritando “Anauê”, a fórmula tropicalizada do “Heil, Hitler!”. Eram integralistas mesmo sem saber do que se tratava.

A revista localizou Aloísio Silva, de 89 anos, uma das vítimas das práticas eugênicas da família Rocha Miranda. Ele mora em Campininha, cidade para qual mudou a maioria dos órfãos que foram liberados pela família com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Na fazenda, Aloísio cuidava dos animais, principalmente dos cavalos, e capinava. Por ter sido retirado do Rio de Janeiro, em novembro de 1933, não pôde conhecer a mãe. O professor Sidney Aguilar, de posse dos arquivos do orfanato, revelou-lhe o nome: Maria Augusta. As certidões originais dos meninos podem ter sido queimadas pela família Rocha Miranda.

Mesmo com idade avançada, Aloísio mantém a lucidez e relata como eram escolhidos os meninos para o projeto eugênico (Alice Melo reproduz fielmente a linguagem oral): “A primeira leva de dez meninos do Orfanato Romão Duarte foi escolhida a dedo por Osvaldo Rocha Miranda, com auxílio de seu motorista, André: ‘Ele recuou nós tudo num canto, no quintal de brincar. Aí colocou nós empilhado ali e ficou no passadiço em cima, com um saco de bala. Aí, de lá de cima, o major Osvaldo Rocha Miranda jogava um punhado de bala. E nós ia catar que nem galinha catando milho. Nós não sabia de nada... Então ele ia olhando e apontava com uma vara: André, põe esse pra lá, põe esse pra cá. Ele apartou dez da nossa turma. Na segunda vez que ele jogou as balas, nós já foi catá tudo com medo, assombrado, olhando pra cima. Nós não sabia o que ia fazer com nós. Depois que ele fez a escolha dele, falou: André, solta os outros’.” Osvaldo Miranda selecionava “os mais rápidos, espertos e fortes” — no que, como nota Alice Melo, repetia os nazistas ao escolher os que iam morrer e os que iam sobreviver nos campos de concentração e, sobretudo, de extermínio.

Escolhidos, os garotos, com idade de 9 a 11 anos, eram isolados por oito dias e, em seguida, eram levados em carros da polícia à estação de trem Central do Brasil. Diziam aos meninos que teriam boa vida no campo. Na fazenda, tinham “tutor”, na verdade um capataz paraibano, “ruim ‘mermo’”, diz Aloísio. A escravidão havia sido abolida 45 anos antes e estava na Presidência da República Getúlio Vargas, o político que criou a legislação trabalhista que, em tese, “libertou” os trabalhadores dos grilhões do capitalismo tardio patropi. Mesmo assim, segundo o relato de Aloísio, a vara de marmelo e a palmatória com cinco furos eram utilizadas com frequência. “A mão da gente chegava a ‘sangrá’ que a gente nem conseguia ‘escreve’ na escola no dia seguinte”, diz Aloísio. “Sabe que... Nem triste, nem feliz. Para mim, aquele lugar nunca existiu”, afirma Aloízio.

Alice Melo escreve que “os 50 meninos foram em três levas para a Santa Albertina — entre 1933 e 1934. No primeiro ano, cursaram a quarta série na escola”. Mas tudo indica que os Rocha Miranda pensavam muito mais no trabalho como forma de educar, de criar uma geração dura, do que na educação escolar. Os meninos viviam num sistema similar ao da escravidão, pois “permaneciam isolados dos demais moradores e só podiam deixar a propriedade acompanhados pelo capataz”, e, no lugar do nome, tinham números. Eles eram vítimas de uma experiência cruel, mas não tinham informações suficientes para avaliar o que estava ocorrendo.

Uma das histórias mais surpreendentes é a de Argemiro dos Santos, o Marujo, que, órfão, foi retirado do Educandário Romão Duarte e levado para a fazenda da família Rocha Miranda. Descoberto no interior do Paraná, Marujo tem quase 90 anos. Os pesquisadores descobriram que ele ganhou o apelido de Marujo porque “serviu à Marinha durante a Segunda Guerra Mundial”. Trabalhava nas caldeiras de um navio. Ele foi engraxate, mendigo, jogador de futebol, boxeador e tocador de trompete e pistom.

Marujo, assinala Alice Melo, “nunca contou a história da infância para ninguém da família, que só soube do assunto há poucos meses, após a visita de Aguilar Filho e, recentemente, da ‘Revista de História’. Seu Argemiro fugiu da fazenda quando tinha 13 anos: um belo dia, esperou a noite cair e deu no pé. Ninguém mais soube dele. ‘Eu falei pra mim: vou cair é fora desse negócio! Fui andando, peguei um caminhão até a Estação Engenheiro Hermillo e fiquei lá escondido. Quando apareceu o trem, eu fui lá e, pum!, entrei e fui parar em Sorocaba. Aí fiquei ali engraxando. Era jornaleiro, dormia num banco na praça. Mas logo caí fora, pensando em jogar futebol. Eu era bom de bola. Fui pra São Paulo”. Ao saber que a Marinha procurava voluntários para participar da Segunda Guerra Mundial, Marujo diz ter pensado: “Aí eu falei: opa! Se é pra morrer, vou morrer na guerra! Morrer sendo engraxate?” Na Fazenda Santa Albertina, Argemiro “cuidava dos bichos e capinava”. Era castigado com palmatória e recorda-se “do uniforme com marcas do integralismo”. Em Foz do Iguaçu, Marujo se tornou jogador do ABC, time de futebol local.

A “Revista de História” entrevistou Diva, viúva de José Alves de Almeida, que, na fazenda, atendia pelo número Dois. Liberado pela família, com o fim da Segunda Guerra Mundial, Dois, retomando o nome de José Alves, optou por ficar na fazenda, como trabalhador assalariado. O herdeiro Renato Rocha Miranda não seguia os métodos da família e, segundo Diva, “era muito bom”. “Zé Pretinho”, como José Alves era chamado pela família e pela própria mulher, já faleceu.

O curioso é que José Alves não foi escolhido pelo fazendeiro Osvaldo Rocha Miranda. “Foi enviado junto com os outros porque ‘fez malcriação’ para as freiras. Era para ele ‘aprender a se comportar’”, anota Alice Melo. Sua irmã, Judith, chorou durante vários dias, pois não pôde acompanhá-la. Ela ficou na parte feminina do orfanato. Só se encontraram décadas depois.

Ao final do texto, Alice Melo conta uma história que merece desenvolvimento. Uma irmã de Diva, Alice, morava na Fazenda Retiro Feliz, “propriedade de veraneio dos alemães Arndt von Bohlen Krupp e Annelise von Bohlen Krupp. Arndt era um jovem da alta sociedade europeia, filho renegado de Alfried Krupp, um dos donos do conglomerado de empresas Krupp — conhecidas por produzirem armas de fogo utilizadas na Segunda Guerra. Coincidentemente, os Rocha Miranda tinham relações comerciais com essas empresas. Alfried, em 1948, foi condenado por exploração de mão de obra escrava na Alemanha.

Noutro texto, “Racismo à brasileira”, Sidney Aguilar Filho registra: “Na Constituição brasileira de 1934, em seu artigo 138, está escrito que ‘Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos da leis respectivas: b) estimular a educação eugênica’. No Brasil das décadas de 1930 a 1940, a ‘educação eugênica’ foi aplicada às crianças, em especial aos filhos da classe trabalhadora mais empobrecida, sobretudo nos termos da época, entre ‘órfãos e abandonados, pretos ou pardos, débeis ou atrasados’”.

Sidney Aguilar Filho diz que três ministros da Educação da Era Vargas, Francisco Campos, Belisário Penna e Gustavo Capanema, “defenderam abertamente concepções eugênicas”. Afrânio Peixoto, no livro “Noções de História da Educação”, de 1936, “defendeu a segregação de crianças e adolescentes ‘degenerados’ como forma de garantir a ‘saúde da Nação’”. O historiador relata que o termo eugenia, “boa geração”, foi criado, em 1883, pelo antropólogo inglês Francis Galton.

Três livros examinam a presença nazista no Brasil: “Nazismo Tropical”, de Ana Maria Dietrich; “Suástica Sobre o Brasil — A História da Espionagem Alemã no Brasil” (Civilização Brasileira, 356 páginas), de Stanley Hilton; “Missão no Reich — Glória e Covardia dos Diplomatas Latino-Americanos na Alemanha de Hitler” (Odisseia Editorial, 543 páginas), de Roberto Lopes. Stanley Hilton revela que o poeta brasileiro Gerardo Mello Mourão espionou para os nazistas.