quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Haitianos imigrantes no Brasil

Amazonas recebe até 20 haitianos por semana e 500 estão em Tabatinga

(Álisson Castro . portal@d24am.com)

Migração tem sido crescente desde o terremoto que devastou o Haiti.
Dos 1,2 mil haitianos que vivem em Manaus, cerca de 200 têm residência
fixa

Manaus - Pelo menos 500 haitianos estão no município de Tabatinga (a
1.108 quilômetros a oeste de Manaus) aguardando uma oportunidade de
vir para a capital do Amazonas, segundo estimativa feita pelo padre
Gonçalo Franco, diretor da Pastoral da Mobilidade Urbana da
Arquidiocese do Alto Solimões.
Segundo ele, toda semana chegam a Tabatinga entre 12 e 20 haitianos em
busca de documentação para poder seguir para Manaus. “Grande parte
deles tem entre 20 e 30 anos. São jovens que vêm até o Brasil em busca
de oportunidade de emprego”, informa o padre.
Segundo Franco, só 20% dos haitianos que chegam a Tabatinga possuem
uma formação profissional. “Temos ali engenheiros, professores, além
de pessoas que já trabalharam em outros países como Estados Unidos e
México”.
Em Manaus vivem atualmente cerca de 1,6 mil refugiados haitianos, de
acordo com estimativa da Pastoral do Imigrante, entidade ligada à
Igreja Católica que atua acolhendo os haitianos que chegam à cidade.
Segundo o titular da delegacia da Polícia Federal em Tabatinga,
Gustavo Pivoto, os haitianos que chegam ao Amazonas não podem,
tecnicamente, ser enquadrados como refugiados porque a legislação
brasileira não prevê o benefício para vítima de desastres naturais.
“No entanto, há uma orientação do Conselho Nacional de Refugiados
(Conare) para fornecer a condição de refugiados aos haitianos em
caráter excepcional”, explica o delegado.
Segundo ele, o trabalho da Polícia Federal tem sido o de auxiliar os
haitianos no aspecto burocrático. “Eles preenchem um formulário e
entregam a documentação necessária para o pedido de refúgio por
desastre e nós encaminhamos os formulários ao Conare, em Brasília.
Após aprovada a condição de refugiado, eles têm permissão para seguir
para Manaus ou para qualquer outra cidade brasileira”.
Demanda
De acordo com Pivoto, já foram concedidas mais de 1,2 mil declarações
conhecendo os portadores do documento como refugiados no Brasil.
Para o pároco da Igreja de São Geraldo, Gelmino Costa, que coordena os
abrigos dos haitianos em Manaus, cerca de 20% dos haitianos que estão
em Manaus possuem formação profissional. “Mais de 90% dos que estão em
Manaus são homens. Ao possuir o documento que o qualifica como
refugiado, eles podem tirar toda a documentação necessária para irem
em busca de empregos”, destaca.
Segundo o padre, para chegar ao Amazonas, eles passam por viagem que
pode durar três meses. “Como o Brasil não fornece visto para o Haiti,
eles não podem embarcar em um voo direto para o País, por isso eles
chegam aqui por meio de um país que não exija visto, como o Equador.
De lá eles atravessam o Peru até a fronteira com o Brasil, chegando a
primeira cidade em território brasileiro, Tabatinga”, explicou.
Para o padre, a política de imigração para os haitianos está
equivocada. “Se o País concedesse o visto ainda no Haiti estas pessoas
poderiam embarcar em um avião e descer em qualquer Estado brasileiro
com a autorização de entrada. Como eles têm que passar por um
verdadeiro calvário para chegar ao Brasil, a porta de entrada mais
próxima dos países que não exigem visto é Manaus. Por isso há esta
concentração de haitianos na capital amazonense”, avaliou.
De acordo com o padre, 200 haitianos que estão em Manaus já possuem a
‘residência permanente’ no País.
Para o professor de francês Aurelio François, 37, vir ao Brasil foi
uma oportunidade para encontrar emprego. “Depois do terremoto que
atingiu o Haiti, ficou difícil manter o trabalho lá”.
Universidades do país também estão recebendo alunos que procuram o Brasil para terminar seus cursos, após o terremoto do ano passado. A Unicamp e a USP já contam com algumas dezenas de alunos que vieram do Haiti e estão a receber ajuda, inclusive econômica, para conclusão de suas graduações aqui no Brasil.
Marcelus Silveira - 07/09/2011

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